domingo, 19 de fevereiro de 2017

HISTÓRIA DO POVO DE INHAMBANE

HISTÓRIA DO POVO DE INHAMBANE

Em Moçambique, a região ao redor da Baía de Inhambane, na província com o  mesmo nome, associa-se à comunidade tonga, ou seja, aos vatonga. Por se encontrarem numa região do litoral, os vatonga mantiveram ao  longo dos tempos intensos contactos com pessoas e povos que, motivados por diversos interesses, demandaram a costa de Moçambique.
Para além da presença portuguesa a história regista contactos com pessoas e povos de outras regiões como os povos vindo do Médio Oriente e povos vindos da África do Sul (baNgoni), a quando do M’fecane.
As invasões dos Ngoni
Um grande grupo Ngoni, veio fixar-se na planície costeira entre a cadeia de montanhas Drakensberg e o mar, o rio Fish ao sul e a Baia de Maputo ao norte. Nessa região o solo era bastante fértil, as chuvas eram regulares e os muitos rios que descem das montanhas Drakensberg foram fronteiras naturais históricas. Por outro lado, é uma zona livre da mosca tsetse e da malária. Todas estas condições naturais fizeram com que o povo Ngoni aumentasse depressa.
A região era própria para a pastoricia e os povos Ngoni ocupavam-se geralmente da criação de gado. Os Ngonis eram um povo patrilinear. Viviam em tribos não muito numerosas, tinham um chefe que tinha funções políticas, religiosas e militares dentro do quadro da tribo. No campo militar era frequentemente ajudado por indunas, que eram uma espécie de ouvidos e olhos do rei. O povo Ngoni tinha, um tipo de economia tribal em que os escravos ainda não tinham lugar mas tinha certas camadas da tribo que possuiam já uma situação privilegiada na repartição dos bens da produção.
Nos meados do século XVIII várias lutas começaram a ter lugar entre as várias tribos pela posse da terra. O aumento da população criava problemas difíceis de resolver numa economia em que não se produzia mais do que o necessário para consumir. As tribos tinham que se expandir para terem espaço suficiente para a pastoricia e agricultura, e isso tinham que o fazer no estreito corredor entre as montanhas Drakensberg e o mar. Os rios que descem do Drakensberg formavam fronteiras naturais e dessa forma se formaram três grandes grupos de tribos Ngoni. Os Ngwane, comandados pelo chefe Sobuza, encontravam-se desde o rio Tembe até ao rio Pongola. Os Ndwandwe entre o rio Pongola e o rio Mfolozi e comandados por Zwide. Os Mthethwa do rio Mfolozi até ao rio Tugela e comandados por Dingiswayo. As lutas entre estas tribos eram muito frequentes e por essa razão a organização militar dessas tribos se aperfeiçoou muito. Os exércitos eram organizados na base de grupos da mesma idade.
Todos aqueles que eram circuncidados ao mesmo tempo faziam parte dum mesmo grupo no exército o que ajudava a criar um maior entendimento nesses grupos vindos de regiões diferentes. Esta formação do exército foi primeiramente utilizada por Dingiswayo, o mais famoso dos três chefes tribais.
M’fecane
Dingiswayo não tinha conseguido submeter as tribos Ndwandwe à sua autoridade. Os Ndwandwe eram comandados por Zwide. Na luta pelo espaço Tchaka precisava expandir para o norte. Para isso reformou todos os métodos de táctica e organização do seu exército. Tchaka formou um estado tribal militar.
Tchaka tornara-se senhor absoluto nas terras entre o rio Pongola e o rio Tugela. Começou a desafiar o poder de Zwide, conseguindo fazer com que várias tribos Ndwandwe começassem a prestar-lhe vassalagem. Zwide não podia ficar parado perante um inimigo que se preparava para conquistar-lhe as suas terras e por isso resolveu tomar a iniciativa de atacar Tchaka.
Os dois exércitos encontraram-se perto da colina Gokoli. Os Ndwandwe eram numericamente superiores mas a disciplina do exército zulu conseguiu-lhe outra superioridade. Tiveram de recuar deixando no campo de batalha cinco dos filhos de Zwide, entre os quais o herdeiro.
Zwide não desistiu de atacar. Sabia que travava com Tchaka um combate decisivo. Ou ele vencia e podia continuar a reinar ou era vencido por Tchaka e o seu povo ficaria sob o domínio zulu. em 1819 enviou contra Tchaka um exército poderosíssimo. Em contrapartida o rei asututo, Tchaca, enviou o seu povo e o seu gado para fechar a passagem ao inimigo ao mesmo tempo que ia atacando o exército Ndwandwe com pequenos destacamentos de guerreiros, numa táctica de guerrilhas. Uma noite uma grande quantidade de guerreiros zulus conseguiu penetrar no acampamento dos Ndwandwe, enquanto estes dormiam, e mataram centenas de guerreiros. Antes dos Ndwandwe poderem reagir os guerreiros zulus fugiram.
Ao mesmo tempo, Tchaka ia deixando o exército inimigo penetrar no seu território quase até ao rio Tugela, continuando a fazer pequenos ataques de guerrilhas, indo assim desmoralizando o exército inimigo. A fome começou a lavrar no exército de Zwide e todos os homens estavam muito cansados. Zwide então decidiu recuar e voltar para o seu país.
Quando iam atravessar o rio Mhlatuze o exército de Tchaka caiu sobre eles. Foram completamente derrotados. Tchaka enviou os seus exércitos que entraram no país Ndwandwe e massacraram a maior parte da população civil. O que restou do exército de Zwide dividiu-se em três grupos. Zwide conseguiu chegar com alguns dos seus até ao Alto Incomate onde se instalou. Dois outros grupos dirigidos por Soshangane e Zwangedaba foram instalar-se em Moçambique ao sul do Limpopo.
A batalha de Gokoli marca uma etapa decisiva na carreira de Tchaka e foi o ponto de partida do que se chamou o Mfecane, ou sejam as migrações para o norte de muitas tribos Ngoni. Tchaka passou desta forma a dominar em todo o território que ia desde a Baia de Maputo até ao rio Tugela.
Império de Gaza
Depois da vitória de Tchaka contra Zwide em Gokoli, um dos chefes militares de Zwide, Soshangane, foi refugiar-se juntamente com Zwangedaba e Nxaba na região de Lourenço Marques. Estes comandavam as tribos Mazeko e Msene. Os portugueses tinham uma pequena fortaleza e uma feitoria em Lourenço Marques. Houve várias pequenas lutas entre eles e Soshangane mas finalmente chegaram a um acordo e os portugueses continuaram na feitoria.
Quando o filho de Zwide, Sikuniana, foi vencido por Tchaka em 1826 foi refugiar-se junto de Soshangane que assim fortaleceu muito o exército que estava a organizar segundo os moldes zulus. Soshangane ficou na Baia de Maputo até 1828.
Soshangane, que também se chama Man ikuse, vai então formar um grande Império, a que deu o nome do clã de seu avô Gaza. O Império de Gaza tinha a sua capital em Chaimite e daí os exércitos de Soshangane fizeram expedições em todos os sentidos.
Várias dessas expedições foram contra os portugueses. Em 1834 houve uma particularmente violenta da qual resultou a retirada de todos os portugueses que se encontravam em Inhambane.
Soshangane criou um grande Império que ia desde o Zambeze até Lourenço Marques. Esse império foi o Império de Gaza. O estado formado por Soshangane era idêntico ao estado zulu que Tchaka formara. Soshangane continuou a usar o sistema de incorporação por idades e a utilizar os mesmos métodos de luta. Os chefes das tribos conquistadas eram obrigados a servir nos diversos exércitos de Soshangane. Os exércitos de Soshangane eram comandados por indunas escolhidos por ele.
Baixa auto-estima dos vatonga
Quando os Ngoni migram para a regiao de Inhambane, encontraram dois povos os vatonga e vatxopi. Estes povos viviam pacificadamente e eram mais tolerantes e acolhedores. Aliais, Vasco da Gama já tinha apelidado Inhambane como "Terra da Boa Gente em 1498". Os Ngoni dominaram facilmente e ridicularzaram tudo haver com a cultura dos vatonga. Mataram os mais influentes e todos aqueles que se rebeliavam, tomavam as esposas destes à força. Os vatonga que quisessem viver deviamassimilar a cultura Ngoni para além de que, deviam furar a orelha e serem chamados de mabula dlelas abridores de caminho para o norte do império.
Chegados em Manica e Sofala, os Ngoni deparam-se com uma realidade pouco habitual. Encontraram povos com tradição espiritual e religioso mais forte. Praticavam o culto ao Nhanga, espirito de curandeiro com poder de cura e falar com os ancentrais. Praticavam o culto numa palhota sagrada cmada de Dhumba, onde residiam o nhanga e o mphukua (espirito maligno que exigia as dividas ou se vingava de algo). De salientar que, alem das praticas religiosas deste povo, ele sabia lutar. A título de exemplo, as revoltas contra os prazeiros e varias frentes aquando do imperio do Mwenemutapa.
Estes povos da região norte do império de Gaza agradaram ao Soshongane. Tendo recebido o sector intermediário, relegando os vatonga para o último lugar na hierarquia do império. Os membros do núcleo Ngoni constituíam uma classe privilegiada, da qual eram e colhidos os indunas e os demais chefes, e a qual se chamava «ba-Ngoni». Os elementos das tribos conquistadas em Manica e Sofala pertenciam a classe, com alguns privilégios chamada de «ba-changane», e por fim os vatonga que eram marginalizados e escravisados eram chamados de  «mabula dhela». Eram sujeitos a diversos tipos de discriminação, por exemplo no campo de batalha eram sempre os que ficavam nas primeiras filas.
Os vatonga não deviam se expressar em sua lingua por temer represálias. Pararam de fazer ritos de iniciação mas, continuaram a fazer circuncisão no mato por medo de serem descobertos. É daí que, os vatonga celebram contratos de pedido de unhanga para melhorar a sua baixa estima ou tentar fingir que é da descendência Ngoni para não ser ridicularizado.
O mais engraçado é que até aos dias de hoje os vatonga têm medo ou vergonha de falar a sua língua materna na cidade. Preferem falar português quando estão na cidade de Inhambane e um pouco na cidade da Maxixe e no Centro e Norte do país. Enquanto, quando vão às províncias de Maputo e Gaza falam changana e ronga. Mesmo quando regressam, fingem de não saber falar a sua língua materna (gitonga).
Esta ridicularizacão piora ainda mais com o colonialismo português. Foram obrigados a viver em dois mundos o “tradicional”, de que derivam elementos simbólicos que sustentam a  identidade étnica, construída socialmente como “genuína”, e o “moderno”, tido localmente como exógeno, associado à ascensão social e activação de uma  identidade cosmopolita, trans-étnica, os  vatonga
recorrem a um conjunto de  estratégias de criação de nomes, cobrindo estes dois universos. Como consequência disso, os antropónimos que se associam aos  vatonga, exibem uma diversidade na sua estrutura.
Por um lado, os que podem ser considerados como tipicamente tonga (ex.: Nhakudzi Pimbi, Rungo Banta); por outro lado, os considerados tipicamente aportuguesados (ex.: Nádia da Linda Duce), passando por soluções intermédias, em que há uma  junção de elementos tongas e portugueses, ou ainda muçulmanos (ex.: Hanifa Algy, Nidzi Madeira [Mapulango], António Alberto).
A pergunta que não quero calar é: de que forma se pode extinguir este medo dos vatonga falarem a sua língua a vontade?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

MBOA, TSEKE (Amaranthus viridis)

MBOA, TSEKE  (Amaranthus viridis)
O "Mboa" como é conhecido na Província de Inhambane, ”tseke” na província de Maputo e Gaza  e “nheua“, no Norte de Moçambique. Em Brasil é chamado de Caruru. é uma planta considerada por muitos uma erva daninha, pois cresce de forma espontânea em terrenos abandonados e no meio de jardins. Ela tem diversas utilidades. Alias, o Governo da Republica de Moçambique incentiva o seu cultivo e já despõe de elevadas quantidades de semente para a comercialização.

O Mboa (Amaranthus viridis), também conhecido como bredo, caruru de porco ou caruru de mancha seria uma planta nativa das Américas, embora alguns autores indiquem que sua origem seja a Jamaica. Segundo relatos, os europeus tiveram seu primeiro contato com essa planta através do povo Maia, que habitava terras mexicanas.

Embora seja tida como uma espécie invasora, estando bem adaptada às condições climáticas moçambicanas, o mboa é um ótimo indicador de qualidade do solo. Isso porque sua presença indica solo rico em potássio (K), elemento mineral que confere certo grau de fertilidade a terra.

Devido a sua constituição bioquímica o mboa é extremamente valorizado em relação aos seus aspectos nutricionais e medicinais. Todas as partes da planta são comestíveis (folhas, sementes e raiz), embora em Inhambane se consome apenas as folhas, sendo um alimento rico em potássio (K), ferro (Fe), cálcio (Ca) e vitaminas A, B1, B2 e C. É indicado nos casos de anemia, desnutrição infantil e durante o aleitamento materno, uma vez que possui propriedade lactígena (favorece a produção de leite). É importante ressaltar que gestantes e lactantes deveriam evitar o consumo de suas flores, fazendo uso apenas das folhas.

As folhas do mboa são ricas em flavonóides, principalmente quercetina e rutina. Esses dois compostos possuem diversos efeitos bioquímicos como inibição de enzimas, papel regulador sobre diferentes hormônios e atividades farmacológicas como: ação antioxidante, antimicrobiana, anti câncer, anti hepatotóxica e proteção do sistema cardio vascular. Todas essas propriedades fazem com que o nosso querido caruru seja utilizado no tratamento de processos inflamatórios (infecções), eczemas, bronquite, constipação intestinal (prisão de ventre), problemas de digestão e hepáticos (fígado) e hanseníase (lepra).

Na culinária suas sementes podem ser consumidas torradas, misturadas com diferentes alimentos como pães e saladas. De acordo com Guilherme Piso citado por Jose Manuel Miranda, médico e naturalista que participou de uma expedição nos anos 1637 – 1644 para o Brasil, com patrocínio do conde Maurício de Nassau, o mboa seria de origem indígena. Ele a designava como uma erva de uso medicinal e alimentício. Guilherme Piso, que estudava doenças tropicais e terapias indígenas relata em sua obra, Historia Naturalis Brasiliae: “come-se este bredo (nome como é conhecida a folha na Bahia) como legume e cozinha-se em lugar de espinafre…"

CLIMA
O mboa é uma planta que prefere clima subtropical ou tropical, podendo ser cultivado em temperaturas entre 22°C e 30°C. Estas plantas precisam de luz solar direta ao menos por algumas horas diariamente.
SOLO
O ideal é que o solo seja bem drenado, profundo, fértil, rico em matéria orgânica e com pH entre 5,5 e 7. Entretanto, estas plantas são bastante tolerantes quanto ao tipo de solo, tolerando até mesmo solos levemente salinos ou solos sujeitos a encharcamento por curtos períodos.

PLANTIO
O plantio do mboa é feito por sementes, que são pequenas e devem ficar próximas a superfície para germinarem. Assim, apenas uma leve camada de terra peneirada deve ser usada para cobrir as sementes.

As sementes podem ser plantadas no local definitivo ou em sementeiras, pequenos vasos, copos feitos com papel jornal e outros recipientes. O transplante deve ser feito quando as mudas têm de 7 a 10 cm de altura.

O espaçamento utilizado varia muito conforme a espécie e o cultivar, e não há recomendações estabelecidas para todas. Algumas recomendações gerais são usar um espaçamento de 75 cm a 1 m entre as linhas e de 20 cm a 60 cm entre as plantas destinadas a produção de sementes, ou de 20 a 30 cm entre as linhas e de 10 a 15 cm para o cultivo como hortaliça.

O mboa, dependendo da espécie e do cultivar, pode ser plantado em jardineiras e vasos. Algumas espécies ou cultivares podem crescer muito, também apresentando raízes profundas, e portanto não são adequados para vasos e outros contêineres.

TRATOS CULTURAIS
Retire plantas invasoras que estejam concorrendo por nutrientes e recursos enquanto as plantas são jovens. A maioria das espécies apresenta uma abundante folhagem quando as plantas estão bem desenvolvidas, raramente permitindo que plantas invasoras cresçam.

Note porém que várias espécies de amaranto são elas próprias plantas invasoras em hortas e plantações, podendo causar prejuízos em plantações de outras culturas. A presença natural destas plantas em um local geralmente indica que o solo apresenta uma boa fertilidade.

Adubações podem ser feitas a cada três semanas para promover um bom crescimento, tomando o cuidado de não usar adubos ricos em nitrogênio, pois estas plantas têm a capacidade de armazenar nitratos em suas folhas e ramos.